Existem escolhas que mudam a nossa vida. Em nome da emoção pactuamos de um constante apelo emocional que nos conduz a escolhas que são duvidosos, ao meu ver.
A cada mês, um apelo emotivo é feito a todos nós, por parte da sociedade. E, para não nos sentirmos marginalizados, afinal viver em sociedade é fundamental, entramos no barco comunitário dos desejos artificiais. E lá se vão as nossas economias e as nossas possíveis condições de escolhas mais coerentes. Vamos lá!
Janeiro é o mês do material escolar e do seguro do carro. Fevereiro ou março temos que comprar a fantasia para o carnaval ou para a viagem de fuga dessa festa "porque todo mundo viaja". Em março ou abril, a Páscoa, que nada tem a ver com chocolate nos seduz e se você não der um ovo de Páscoa ao seu filho prepare-se para ser chamado de insensível. Maio é o mês das noivas e das mães como se ser mãe ou se casar fosse algo reduzido a um dia. Junho é dedicado aos namorados e até eu caí nessa muitas vezes me sentindo diferente por nada ter recebido. Julho é tempo de festas juninas e julinas, viagens de férias e mais dinheiro além de quilos a mais porque ninguém é de ferro e uma canjica a mais não faz mal a ninguém. Agosto é o mês dos pais e todos correm para as lojas porque senão o nosso pai não vai acreditar em nosso amor. Setembro temos Cosme e Damião e alguns quilos a mais de novo, além daqueles das festas juninas e julinhas. Em outubro o dia da criança e as crianças que nem sabem ler já conhecem o calendário e seus direitos. Em novembro precisamos lembrar os nossos entes queridos e damos muitas flores a um túmulo que não representa o nosso falecido mas, todo mundo faz assim e ninguém vai questionar isso. E, finalmente em dezembro, tempos que dar muitos presentes para que possamos ser aceitos como boas pessoas e recomeçar tudo de novo no ano que vem, e com mais quilos porque Natal sem muita comida não é Natal. O que dirá Jesus Cristo se eu não pagar caríssimo pelo bacalhau e pelas castanhas?
Pergunto ao meu leitor? Felicidade seria isso mesmo? Quem inventou essa máquina de levar o nosso dinheiro para o desejo do comércio?
Escolhas produzem resultados. Que tal criar um calendário dos próprios desejos e tentarmos viver um ano diferente?
Tente comprar o material escolar durante o ano, aos pouquinhos. Ficar em casa no carnaval e aproveitar a cidade vazia. Fazer seu ovo de Páscoa, com a ajuda do seu amor, numa tarde de sábado. Casar em outro mês e ser feliz por outros motivos e não pelo mês do casamento. Dizer a sua mãe que ela ganhará um presente fora de época e que o dia dela é sempre. Ir para um spa durante as férias do meio do ano e ler um bom livro, conhecer pessoas. Conversar com o seu pai e dizer a ele que o melhor presente da sua vida é ser filho ou filha dele. Rezar ou orar pelos nossos entes queridos que se encontram em outra dimensã onde as flores não são tão importantes assim. E, no Natal, fazer o que quiser, inclusive não dar presentes mas estar presente nesse mundo. O nosso calendário em primeiro lugar!! Vamos acordar para a nossa vida e não para viver a vida dos demais.
Nivea Oliveira
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