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A importância da participação voluntária em micro-redes (redes comunitárias)


O homem é um ser gregário. Existe um pensamento de autoria de Bernad Shaw, que gosto muito:
"If you have an apple and I have an apple and we exchange apples then you and I will still each have one apple. But if you have an idea and I have one idea and we exchange these ideas, then each of us will have two ideas. "George Bernard Shaw. Tradução: "Se você tem uma maçã e eu tenho uma maçã e nós trocamos as maçãs, então você e eu ainda cada um tem uma maçã. “Mas, se você tem uma idéia e eu tenho uma idéia e nós trocamos essas idéias, então cada um de nós terá duas idéias”. O sentido das nossas trocas intelectuais e materiais poderia se resumir nesse conceito, ou melhor, poderia se formar a partir dessa idéia de multiplicar o que possuímos.


Seria bom se as nossas trocas seguissem essa linha de conduta. De um modo geral, o que vemos é mais ou menos assim: “ Se você tem algo que eu não consigo ter em demasia você poderia dar isso para mim porém, não quero dar nada em troca, não quero sair da minha zona de conforto”. Ou: “Tenho mais do que preciso então vou dar tudo o que tenho e ser feliz”. Os dois extremos são constantes em nossa sociedade. O indivíduo que se acostuma em receber e não terá condições de produzir porque não avança, permanece no estado latente de pedinte. E o indivíduo que faz do ato de dar a sua campanha política ou usa essa ação como adesivo do “eu sou bonzinho” não contribuirá para melhorar as coisas porque cria no outro uma depedência.


Fui voluntária na África. Trabalhei para o governo italiano durante muitos anos. Primeiro em países onde a ajuda humanitária era destinada a gerenciar a pobreza. Gerenciar a pobreza é diferente do que gerenciar a riqueza. Em seguida tive uma experiência durante a guerra seguida de mais projetos pós guerra. Descobri que as guerras existem porque algo importante está ali. Vivi a fase da euforia, na qual tentei fazer de tudo e percebi que estava caindo num abismo. Simplesmente não se faz de tudo sozinha ou somente com uma equipe. É necessário intercomunicação, relação com outros projetos, com outras pessoas que pensam diferente de nós. Por que isso? Porque os projetos devem ser voltados para a realidade não para os sonhos. Os sonhos são a base das iniciativas mas a ação deve levar em conta o que existe fora de nós. Aí chegamos no terreno menos interessante: corrupção, pessoas que buscam ajudar a si mesmo através dos demais, enfim... uma série de ações que entravam as iniciativas. Depois tentei me unir aos demais e vi que os interesses e a percepção de ajudar muda de uma instituição para outra. E ao invés de somar vivi momentos de conflito.


Descobri em seguida as redes sociais. Quando participamos das redes sociais evitamos de fazer projetos que já existem e vão muito bem obrigado, aumentamos o nosso senso crítico e saímos do entusiasmo para a bondade racional, verificamos que em casos extremos os que ajudamos podem fazer pouco mas podem fazer algo e , sobretudo vemos os demais como pessoas e não somente como seres inferiores a nós.


O presidente do meu país é uma pessoa, o governador, o prefeito idem. Procuro evitar a idealização de gestores públicos. Devemos insistir. Água, luz, higiene, saúde e educação são itens que devem ser geridos pelo Estado e ajudados pelas ong’s. Não espero de fulano o beltrano o milagre. Busco a mudança através do trabalho e sei que o risco é que algumas coisas jamais mudarão.


Outro cuidado que parte da minha experiência pessoal: não devemos enviar para alguns projetos pessoas desavisadas, motivadas pela vontade de conhecer outras culturas. É melhor fazer isso de outra maneira, numa viagem de turismo. Pessoas assim só levam consigo a própria angústia e criam danos irreparáveis, desfavorecendo o perfil dos que lá estão porque desejam renunciar ao que possuem em favor do outro. Voluntariado não é intercâmbio cultural embora no final da experiência isso seja inevitável.


A questão do dinheiro é outro ponto dolente. Não existe ação totalmente grátis. Você pode até não receber pelo que faz mas alguém está pagando por isso. O combustível dos transportes, o seguro de vida, a alimentação. Não se deve fazer ação voluntária por dinheiro mas sem ele não se faz nada. É melhor colocarmos o dedo na ferida e colocar cada coisa no lugar. O dinheiro existe, não resolve tudo mas ajuda a comprar allimentos, livros, remédios, etc.


Minha experiência pessoal foi muito boa, estou orgulhosa de ter atuado em projetos humanitários e hoje procuro selecionar onde e como vou fazer. Não falo sobre isso com ninguém. Estou vivendo a fase da ajuda silenciosa e estou adorando isso. Participo de redes voltadas para a proteção animal e do ambiente.  Procuro trocar ideias e não maçãs. Nem sempre consigo, é claro! Nivea Oliveira.

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